junho 11, 2015

... resolve-se sozinha. Será?



Maio 2013


Lembro-me que naquele Maio fiquei desorientada. Chorei sozinha e no ombro de quem está sempre lá para mim. Depois das lágrimas, reergui-me e pensei num futuro melhor, afinal aquele não era nem por sombras o meu emprego de sonho. Passei um ano a enviar cv's e a aproveitar da melhor forma o meu filho (único na altura), a mimá-lo, a ensiná-lo e a aprender com ele a ser mãe. Passado um ano, sem resposta do mercado de trabalho e a adorar esta coisa da maternidade, decidi(mos) avançar para uma certeza: o segundo filho. Foi uma gravidez com a observação tranquila do crescimento de dois filhos em duas perspectivas diferentes: um dentro, outro fora.
Durante este tempo continuei a investir na minha formação, procurei novos hobbies, pesquisei outras formas de rendimento, mas sobretudo tentei desfrutar deles o mais possível, porque queria e porque acredito que este é o melhor tempo da infância dos meus filhos, em que nós devemos estar presentes e fazer a diferença na vida deles. E estive sempre tranquila. O tempo foi passando num equilíbrio mãe/mulher/profissional-em-contínua-construção.
Nos últimos tempos já não. Começo a sentir falta de algo mais, de objectivos específicos, de outros desafios. Começo a preocupar-me com a idade, com a difícil aceitação por parte do mercado de trabalho de uma mãe com mais de 35 anos. Sabiam que em todas as entrevistas de emprego que fui, a seguir ao Boa tarde! me perguntam logo se tenho filhos e de que idades? Eu já estive do outro lado e sei que esse é meio caminho andado para o meu currículo ficar na gaveta. Por outro lado, podia retirar toda a minha formação do 12º ano em diante e tentar a sorte numa grande superfície comercial, arriscar-me a trabalhar nos horários em que minha família está livre a receber o salário mínimo, subir no escalão de IRS e ficar ela por ela em termos financeiros, sem realização pessoal mas pelo menos dizendo ao mundo que estou a trabalhar... Ou podia abrir actividade nas finanças e fazer um monte de coisas a recibos verdes, tendo sempre um encargo mensal à segurança social, mesmo que não esteja a receber o suficiente ou a receber zero mesmo. Enfim, há um mundo de possibilidades cá dentro que me (nos) levam cada vez mais a equacionar hipóteses lá fora, onde a idade, o estado civil ou o número de filhos não fazem parte do CV, onde recebes pelo que trabalhas, onde podes ter n empregos numa vida porque não ficas  eternamente colado a nenhum deles. Lá, são experiências de vida que que te enriquecem, não te segregam.

Com tudo isto ultimamente os meus filhos têm ficado a perder. Eu ando mais irritada e grito com eles mais do que gostaria. Se estou com eles culpo-me porque devia estar a fazer algo mais, se não estou culpo-me porque queria estar. Daqui a um ano por esta altura estarei a matricular o Rodrigo na primária e o Duarte no jardim de infância. O tempo não pára e eles já estão enormes (e lindos), precisam de mim e eu deles. Por tudo isto tomei uma decisão: vou estar com eles, verdadeiramente com eles, nos próximos meses. O bom tempo está aí, vivemos num sítio lindo em que podemos "imitar" as férias sempre que quisermos, ir ao parque, à praia, pintar, brincar, ficar em casa se nos apetecer. Vou tirar este tempo para respirar sem culpas, para me inspirar sobretudo neles, na sua inocência e alegria de viver. Vou ser feliz com eles e fazê-los felizes comigo.
A Catarina diz que a vida se resolve sozinha, e embora me custe um bocado a acreditar, vou dizer que sim nos próximos meses. Veremos em Setembro o que ela resolveu para mim.




3 comentários:

Anónimo disse...

Como concordo, a primeira infância é sem dúvida quando eles precisam mais de nós e lamentavelmente este país não quer saber, onde uma simples prorrogação da licença de maternidade é mal vista aos olhos do empregador e até aos olhos de alguns cidadãos comuns e termos que ouvir alguns comentários menos simpáticos é lamentável , parabéns pela coragem dessa decisão ;)
Bjs

sandra disse...

Desfrutar este tempo com eles é um privilegio mas quando não te sentires feliz por estares a ser mãe o tempo inteiro também tens de pensar em ti antes de mãe também somos pessoas, lendo o teu post penso o quantas vezes imagino que tudo seria mais fácil se fosse mãe a tempo inteiro mas no fundo sei que não me sentiria realizada,bjinhos

Anónimo disse...

Se não se resolver sozinha... nos damos uma ajuda.

Uma coisa boa que esta vida tem, pelo menos a minha, é que é junta com a tua... e isso, só por si, já resolve muita coisa...

Lov-U!