março 21, 2013

A minha terra...

A minha terra tem a rua das lojas, aquela que já teve muita vida mas onde hoje só restam as montras, com cartazes a dizer "Vende-se", as mesmas que outrora nos alegraram os olhos. No lugar onde já existiu um cinema velhinho, mas com tão boas recordações, frio que só ele, mas tão bom para um encontro de namorados, tem hoje um monumental e muito premiado Centro de Artes, que nada tem a ver com o centro histórico que o rodeia, e que dá tonturas a quem lá entra de tanto mármore branco que o decora. Na minha terra, quase toda rodeada pelo azul do mar, havia uma marginal onde se podia passear, andar de bicicleta, correr e molhar os pés no oceano. Hoje existe um amontoado de lama e máquinas enormes a revoltar a terra, para dar lugar a projectos megalómanos do seu Presidente da Câmara. O Carnaval já foi postal de visita, um dos maiores do País, original, alegre, feito pelas gentes da terra e alegrado por muitos visitantes... hoje não passa de um espectáculo deprimente. Na minha terra há a pastelaria, aquela a que todos vão quando querem saber as últimas novidades, quando querem mostrar o novo colar de pérolas, e onde se juntam todos os dias e à mesma hora as beatas que tudo sabem e de tudo falam. A mesma pastelaria que tem os melhores pastéis de nata do País (batem mesmo os de Belém, podem crer), as melhores arrufadas (também conhecidas por Pão de Deus), e o querido do Sr. Zé que também conquistou o coração do meu filho. Na minha terra há um dos melhores festivais de Verão, destacado pelas músicas do Mundo, e saudado pela alegria e vida que traz à cidade pelos que lá moram. Na minha terra a sirene dos bombeiros toca ao meio dia de Domingo, as donas de casa saem de robe para comprar o pão na carrinha que passa à hora certa (com a sua buzina irritante), e o ex libris profissional é conseguir trabalhar na Câmara Municipal! Na minha terra ainda há a vergonha de ser traído, roubado ou enganado, porque sabe-se que não tarda esse será o tema de conversa na pastelaria onde todos passam. Mas há também o orgulho de dizer que o filho entrou para a faculdade, que a filha vai casar, ou de andar com as fotografias dos netos para mostrar sempre que a ocasião o solicitar. Na minha terra, a gastronomia é estimada pela feijoada de búzios saboreada à beira mar, e devora-se o peixe fresco acabadinho de pescar.
Esta é a minha terra... aquela onde eu vivi!



* desafiada aqui.


3 comentários:

Bi disse...

Basta a tua terra estar rodeada quase toda rodeada pelo mar, para já ser uma bela terra para mim! Muito Giro Sofia! ;)

Pólo Norte disse...

:)

Mariposa Colorida disse...

Adoro terras assim! A minha terra também é aquela onde eu vivi!